sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Doce Anwita

Há dias venho quebrando a cabeça pensando no que escrever sobre um dos nossos melhores presentes em terras indianas. Um presente chamado amizade, e parece ser da boa, daquela tranquila e sem cobranças no final do mês e que, não pára de crescer.

Conhecemos Anwita em Londres através da querida amiga Andrea Park. Ambas estudantes de mestrado em Design de Tecido no badalado Chelsea College of Art. Um curso bastante desafiador, caro e elitista, mas também repleto de seres humanos interessantes, onde brotou a amizade fusion Brasil-Coréia-Índia. E mais adiante nessa história, depois do curso concluído e muita água ter passado debaixo da ponte, nós felizmente, tivemos a oportunidade de pegar carona nessa amizade.

Anwita deixou a Índia em 2008 rumo a Londres para se especializar na arte dos tecidos. Dona de um portifólio belíssimo, não foi tarefa difícil ser aceita na pós-graduação. O  mais complicado nessa história certamente foi sobreviver na selva de pedra londrina. Vida de estudante imigrante não é brincadeira… é preciso abrir o coração para assimilar uma cultura diferente, saber lidar com a distância, a falta de dinheiro, saudade e a pressão do curso. Mas certamente a possibilidade de estudar numa das melhores escolas do Reino Unido, supera qualquer dificuldade.

Anwita é uma guerreira Hindu, dona de olhos misteriosos  e apaixonantes. Guerreira contemporânea, uma artista que nasceu numa das sociedade mais tradicionalistas e fechadas da era moderna. Ser mulher com voz ativa e ter poder de escolha num mundo machista é uma missão quase impossível, muitas vezes com final triste. No caso dela, ainda muito jovem, foi preciso fazer uma escolha. Essa é a história… filha de ex-militar, vinda de uma família Hindu super tradicional, com direito a linhagem, casta e casamentos arranjados. Tudo como manda o figurino. Ou quase tudo…

anwita

Quando tinha 18 anos, o pai arrumou o pretendente ‘perfeito’ e ela disse ‘não’. À partir desse dia a coisa azedou. Ela saiu de casa, enfrentou a grande Deli e ali começou a vida do zero. O pai ainda tentou reorganizar o casamento, mas novamente, ela foi taxativa. Na capital ela chegou a comandar a produção de  uma fábrica de tecidos e assim pôde sobreviver e mobiliar seu cantinho, ponto de encontro dos amigos.

Trabalho vai, trabalho vem, entre uma pausa e outra, ela conheceu Arun, com quem é casada há 5 anos. Só um pequeno detalhe, sua família inglesa-indiana é de origem cristã-católica. E a sociedade tradicional hindu não vê com bons olhos essas mistura de credos. A união criou força e o casório aconteceu mesmo com a desaprovação do pai. O casal juntou as economias e os amigos fizeram um multirão para ajudar. Como previsto, seu pai não compareceu, e contra sua vontade, a mãe, irmã e alguns parentes de Anwita, prestigiaram a simples e bela cerimônia hindu, como manda a tradição, ou parte dela pelo menos.

Com o apoio do maridão, o casal fez uns empréstimos pela cidade para que Anwita pudesse estudar em Londres. Ela já foi e já voltou e finalmente, as contas estão pagas. O curso foi uma super escola; vivência, bagagem profissional e pessoal. A readaptação à Índia provinciana acontece a cada dia. Seu pai ainda não conhece o genro. Ela, a mãe e a irmã se falam de tempo em tempo.

Após 5 anos, pela primeira vez desde o casamento, Anwita visitou o pai por motivo de saúde. Na medida do possível a conversa fluiu, mas Arun teve que esperar do lado de fora. O encontro dos dois ainda não aconteceu e não há planos para que aconteça. Já que os hindus acreditam em reencarnação, quem sabe numa próxima vida esse paizinho amado, do qual ela guarda tão boas lembranças, tenha mais tempo para digerir com o coração o bicho chamado ‘diferença’ e o bicho mor, rei da selva de pedra chamado ‘tolerância’... Tolerância e respeito pelas diferenças começam dentro de casa, meu povo. É o que nós esperamos e desejamos ao mundo.

3 comentários:

  1. Realmente o melhor presente que possamos ter são bons amigos. E vocês amigos, sintam-se abraçados por essa família aqui neste natal, recebendo todo nosso carinho, admiração e nossa amizade, que podem estar certos é muito sincera. FELIZ NATAL e que papai do céu leve tudo de bom pra vida de vocês. Bjos no coração

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  2. Conhecemos Anwita em Londres, no niver do Bellese! Realmente ela e uma amor de pessoa! Merry Christmas queridos amigos!! Miss you!xx

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  3. Minhas queridas, como diz minha mãe, Natal na verdade deve acontecer 365 dias por ano. Pensar positivo, agir com amor, dividir, ter mais tolerância etc... então, desejamos esses sentimentos do bem a vocês. Sintam-se abraçadas com muito carinho. Dea, manda abraço apertado ao Kika, lembramos do niver dele...
    Beijão amadas
    nos

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