terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Peeble Garden

Deepika e Bernard são as mãos e o coração por trás do Peeble Garden, ou Jardim de Pedra, originalmente, uma terra de solo pobre e arenoso, onde só existia pedra sobre pedra. O bacana dessa história é que o solo local vem sendo reconstituído sem nenhuma entrada de fora, como terra de composto, através de permacultura, cujo princípio parte da utilização de métodos ecologicamente saudáveis e economicamente viáveis, que respondam às necessidades básicas sem explorar ou poluir o meio ambiente e finalmente, que se tornem auto-suficientes a longo prazo.

A recomposição do solo vem sendo feita através da reciclagem da vegetação pioneira já existente, fazendo-se uso de métodos simples e caseiros, como po exemplo, através do aproveitamento da flora local; camadas de folhas de acácia e lodo de lagos são espalhadas pelo solo e o restante da obra fica a cargo de cupins e minhocas. O trabalho de construção dos solos continua a cada estação e nesse ritmo o jardim vem crescendo devagar e continuamente. Já são 1.000 metros quadrados de horta.

A permacultura aproveita todos os recursos disponíveis, e também, cada elemento presente na composição natural do espaço. Mesmo os excedentes e dejetos produzidos por plantas, animais e atividades humanas são utilizados para beneficiar outras partes do sistema.

Segundo o casal, o objetivo principal do Peeble Garden não é o cultivo de legumes, mas sim produção e cultivo de sementes de variedades raras, raízes e plantas medicinais e fitoterápicos, que requerem pouca água. Por exemplo, já são 15 variedades de berinjela orgânica.

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As sementes são distribuídas para os agricultores e jardineiros de Auroville e também para toda a Índia.E sempre que possível, Deepika e Bernard participam de feiras de sementes na intenção de incentivar mais pessoas a cultivarem seus próprios jardins. Já são cerca de 3.000 pacotes de sementes de hortaliças distribuídas anualmente. 

"Tentamos desenvolver plantas que não são comuns e consequentemente não podem ser encontradas facilmente. Muitas espécies estão ameaçadas, pouco cultivadas e suas sementes raramente disponíveis. A área já conta com 90 variedades diferentes de plantas", acrescenta Deepika. Um novo aspecto do Peeble Garden é a educação e partilha de conhecimentos.

O projeto começou como um jardim experimental, uma tentativa de se reviver áreas severamente desgastadas. A história criou força e evoluiu para a produção de sementes e um centro de estudos de pequeno porte recentemente foi adicionado para comportar voluntários. Essa é a contribuição do Peeble Garden, a manifestação de esperança de um casal que acredita que um dia haverá terra fértil suficiente para acolher todo o planeta, e as variedades em risco de extinção, farão parte de um passado beeem distante.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Rotina zen

Pois então, depois de muita teoria e pesquisa, chegou a nossa hora de conhecer Auroville, ou pelo menos uma amostra dessa sociedade alternativa (viva, viva, viva a sociedade alternativa!!!). Ficamos hospedados numa Guest House chamada Aspiration, localizada na bordinha de fora de Auroville propriamente dita.

A estrutura dessa casa de acomodação, assim como de muitas outras é composta por uma parte fixa, que são os moradores locais; indianos em sua maioria e alguns estrangeiros, além dos visitantes, como nós no caso. O visitante paga uma tarifa diária por pessoa e tem direito ao quarto e 3 refeições.

A acomodação é simples e aconchegante e o ambiente descontraído, repleto de verde por todos os lados. Os quartos são relativamente isolados uns dos outros mas na hora das refeições é possível socializar com a turma local. Numa dessas, conhecemos o professor Rajin, uma figura super simpática e antenada. Gracas a ele, descobrimos várias atividades culturais espalhadas pela cidade e o melhor, de ‘grátis’!

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Para nos locomover, alugamos uma mobilete, sim, isso mesmo! Passear de mobilete foi uma das coisas mais divertidas que fizemos por essas bandas. Geralmente começavamos o dia na boulangerie com um super croissant de queijo e chocolate (sentiram aí o cheirinho do croissant quentinho?) e de lá, íamos desbravar a vizinhança, algum projeto da comunidade, ou fazer aula de yoga e no final do dia, parada obrigatória para o chazinho é claro!

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Os dias em Auroville foram tranquilos e inspiradores. A cidade respira yoga e meditação. Crianças, adultos e idosos ‘espigadinhos’ e na mesma sintonia, saudáveis e com uma postura aparentemente mais otimista pra vida. Felizmente, também fomos contaminados por essa onda de bem viver.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Um lugar chamado Auroville

Auroville não pertence a ninguém em particular, pertence à humanidade como um todo. Para se viver em Auroville é necessário ser o servidor voluntário da Consciência Divina. Esta cidade será o lugar de uma educação sem fim, de progresso constante, e de uma juventude que nunca envelhece; a ponte entre o passado e o futuro, um lugar de pesquisas materiais e espirituais”. A Mãe

Auroville é um município experimental projetado pelo arquiteto Roger Anger, localizada no distrito de Viluppuram, no estado de Tamil Nadu, próximo a Puducherry no sul da Índia. Foi fundada em 1968 como um projeto de Sri Aurobindo e Mirra Alfassa, "A Mãe", que era sua colaboradora espiritual. O desejo da Mãe é que essa cidade experimental contribuísse significativamente no "progresso da humanidade rumo ao seu futuro esplêndido, reunindo pessoas de boa vontade e aspiração por um mundo melhor." A Mãe também acreditava que essa cidade universal também contribuiria para o renascimento indiano. O município também conta com o apoio da Unesco. 

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Na cerimônia de inauguração em 28 de fevereiro de 1968, representantes de 124 países e de 23 estados indianos colocaram numa urna no formato de flor-de-lotus, uma mão cheia de terra de seus respectivos países de origem. Um ato simbólico de união humanitária. O propósito de Auroville é ser uma cidade universal onde homens e mulheres de todos os países são capazes de viver em paz e harmonia progressiva, acima de todos os credos, toda a política e todas as nacionalidades. O propósito maior é realizar a unidade humana.

Auroville é uma mistura dos ideais de igualdade humana e evolução espiritual e uma realidade intrigante para o restante do mundo. Já são aproximadamente 90 assentamentos divididos entre áreas de socialização como cozinha comunitária, biblioteca, anfiteatro etc e comunidades de tamanhos variados, somando mais de 2 mil habitantes de aproximadamente 40 nacionalidades, sendo que dois-terços dos ‘aurovilianos’ são estrangeiros. O que certamente atrai criticismo de fora; seriam esses estrangeiros um bando de gringos excêntricos, vivendo num condomínio rústico no meio do caos com propósitos espirituais? Para alguns sim, mas talvez não para todos.

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A pequena cidade é mantida com doações privadas e apoio de organizações nacionais e internacionais. Os moradores estão envolvidos num variado leque de atividades, que vão de pesquisas na área econômica, regeneração ambiental, agricultura orgânica e permacultura, energias renováveis, tecnologia de construção, desenvolvimento de comunidades, artesanato e desenvolvimento industrial em pequena escala para a comunidade local, saúde, educação entre outras.

O sonho de se construir uma nova proposta de cidade para o futuro, também atrai arquitetos e estudantes de arquitetura de todo o mundo desde o final dos anos 60. Não estar vinculado às convenções tradicionais do processo de criação e construção, vêm permitindo uma infinidade de expressões arquitetônicas ao longo do desenvolvimento de Auroville.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O sonho

“Deve existir um lugar na terra onde nação nenhuma possa clamar como sua e os homens de boa vontade que têm uma sincera aspiração possam viver livres como cidadãos do mundo e obedecer a uma única autoridade, aquela da suprema verdade.

Um lugar de paz, concordância e harmonia onde todos os instintos humanos de luta sejam usados exclusivamente para conquistar as causas do sofrimentos e tristezas, para superar fraquezas e a ignorância e triunfar sobre limitações e incapacidades. Um lugar onde as necessidades para o espírito e a preocupação pelo progresso tenham prioridade sobre a satisfação dos desejos, paixões e procura pelo prazer e satisfação material.

Neste lugar, as crianças teriam a possibilidade de crescer e se desenvolver integralmente, sem perder contato com a alma; educação seria dada não com o propósito de aprovação nos exames ou obtenção de certificados e postos, mas para enriquecer as faculdades humanas já existentes e trazer outras mais.

Neste lugar, títulos e posições seriam substituídos por oportunidades de servir e organizar; as necessidades físicas diárias de cada um seriam tratadas igualmente; e superioridades intelectual, moral e espiritual seriam expressadas numa organização maior, não no aumento dos prazeres e poderes, mas pelo aumento das tarefas e responsabilidades de cada um.

A beleza, em todas suas expressões artísticas, sejam elas pintura, escultura, música e literatura seriam igualmente acessíveis a todos; a habilidade de dividir e a satisfação que a mesma traz seriam limitados apenas pela capacidade de cada um e não por posição social ou financeira.

Nesse lugar ideal, dinheiro não mais seria o todo poderoso; pessoas valiosas teriam uma importância muito maior que aquela do mundo material e status social. Lá, trabalho não seria uma maneira de sobreviver, mas sim de se expressar e desenvolver capacidades e possibilidades, enquanto estando a serviço da comunidade como um todo, o que por si, proveria a subsistência do indivíduo e sua participação na comunidade.

Em suma, seria um lugar onde os relacionamentos humanos, que são normalmente baseadas na competição, seriam substituídas por relacionamentos na intenção de se fazer o bem, de colaboração e real irmandade”.

 

Mirra Alfassa – “A Mãe”, Agosto 1954

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Embarque nesse trem

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Antes de chegarmos ao nosso próximo destino, nós ‘mineiríssimos da gema’, não poderíamos deixar de comentar sobre os trens na Índia e, diga-se de passagem, que ‘trem bão sô’! Tá certo que não são simpáticos como as máquinas a vapor da Europa, mas tudo bem, o importante é que funciona. Ficamos sonhando acordados se o nosso Brasil também tivesse um sistema ferroviário eficiente para transportar pessoas, afinal potencial de sobra temos pra isso. Assim seriam menos aviões no ar, consequentemente menos poluição, mais contato com a natureza e mais diversão pra toda família.

Com 64,000 quilômetros de vias ferroviárias e aproximadamente 6.900 estações, a rede ferroviária da Índia é a terceira maior do mundo depois da Rússia e China, o segundo maior do mundo em termos de passageiros, em torno de 20 milhões de passageiros por dia. A Indian Railways é também a maior empregadora do mundo, com mais de 1,6 milhões funcionários.

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Dizem que a única maneira de se descobrir a verdadeira Índia é viajando-se de trem. Nenhuma visita será completa sem o barulho e a movimentação das estações ferroviárias e já dentro do vagão, o grito do vendedor de chá, ‘o chaaai’, vindo pelo corredor, ou o choro das crianças a bordo (rs…) entre outros sons.
Esqueça aquela memória dos trens suburbanos superlotadas com pessoas sentadas no telhado. Em viagens de longa distância por exemplo, existem oito classes diferentes. Os assentos e camas são reservados, o bilhete é checado e o percurso é seguro, barato e relativamente confortável, apenas um pouco barulhento, afinal aqui é a Índia!
Desde 1853, as estradas de ferro do país têm sido uma força unificadora. Não só fisicamente ligando regiões distantes, mas também, diferentes castas, línguas e religiões que compõem esta diversificada nação. Famílias, estudantes, trabalhadores que vão e que vêm, soldados, turistas etc etc. Essa grande instituição reflete o próprio país. Muitas são as faces e variadas são as histórias, nas estradas de ferro do grande planeta Índia.

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Obs.: Pensando em viajar de trem por esse mundão de Deus? Não deixe de pesquisar o      www.seat61.com – Vale muito a pena, e além disso você pode descobrir de onde o nome ‘seat 61’ ou assento 61 surgiu. 
Fonte: www.seat61.com, BBC Ásia

sábado, 15 de janeiro de 2011

De norte a sul

Nossa temporada no norte chegou ao final. Não por falta de opção, porque esse problema não existe no ‘Planeta Índia’. Mas sim, por falta de tempo. Vou contar uma coisa, se você pensa em visitar esse caótico, intenso, diversificado e colorido país, reserve aí no mínimo uns dois meses. Tudo bem, a gente sabe que quase ninguém tira férias prolongadas,  e que isso é coisa de mochileiro à toa! kkk…

E nesses intensos meses de viagem, conhecemos pessoas que estão viajando há muuuuito tempo. Por exemplo, um holandês que já visitou a Índia 15 vezes - detalhe, e na sua primeira viagem, ele veio de ônibus da Holanda até aqui, é mole? Ou o inglês que chegou aqui de bicicleta. Sim, ele veio do País de Gales até Varanasi de bike e sozinho! Recentemente conhecemos uma querida nova amiga que está viajando há dois anos e meio. Em breve falaremos mais dela.

Vir para estas bandas sem passagem de retorno comprada é um risco… pode ser que você mude de idéia, jogue tudo para o alto e resolva ficar de mala e cuia! hahaha… Mas é serio, dá vontade de ficar mais e explorar mais. Talvez sejam a ‘diversidade-intensidade’ que fazem o holandês voltar aqui por todos esses anos.

Tudo bem, esse não é o nosso caso, vamos voltar a realidade! rs… Como o tempo está curto, já temos compromisso no sul e queríamos vivenciar o transporte ferroviário, resolvemos fazer esse trecho da viagem de trem mesmo. O itinenário total: Varanasi no estado de Uttar Pradesh para o Chennai em Tamil Nadu beeem lá no sul. Tivemos que fazer uma parada nesse trajeto porque não existe trem direto e a distância é grande. Fizemos então, Varanasi a Jhansi, uma cidade tranquila (para os padrões indianos é claro) onde encontra-se uma das maiores junções da malha ferroviária do país. Ou seja, passamos por lá por necessidade, apenas para fazer conexão para o sul. Foram 13 horas de viagem. Passamos o dia em mais um ‘hotelzim’ e de madrugada pegamos outro trem para o Chennai.

Já tínhamos ouvido falar que atrasos acontecem. É verdade! Nossa conexão estava prevista para a 1h30 da manha. Mas acabou chegando apenas às 4h30. Foi um chá de cadeira incrível (ou terrível). A estação estava lotada, fazia frio, não tinha um banquinho pra sentar, nem banheiro, nem chá… o jeito foi sentar nos mochilões e abrir um livro para matar o tempo e tapear o sono.

Tirando o atraso, nosso percurso de trem de 30 ‘horinhas’ foi bem mais tranquilo do que imaginamos. Chegamos são e salvos e já cheios de energia no Chennai, onde fomos direto para a rodoviária para pegar um ônibus de 5 horas para Puducherry e de lá, pegar um tuk tuk até nosso destino final, Auroville. (zzzzz… a pilha está acabando!)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A cerimônia do fogo

Fumaça de incensos ao som dos sinos e cantar dos fiéis, às margens do Ganges compõem o cenário de uma encantadora tradição de honra.

Um grupo de religiosos realizam diariamente no início da noite a Agni Pooja ou  Puja (culto) ao Fogo. A puja de fogo é uma cerimônia em homenagem ao rio Ganges, Sol, deus Shiva, Fogo e todo o universo e é realizada pelos jovens sacerdotes brâmanes.

O culto é realizada no Dashashwamedh Ghat, o ghat mais visitado por peregrinos hindus devido a sua proximidade ao Templo Vishwanath . Duas mitologias hindus são associadas a esse ghat: Segundo uma delas, Lorde Brahma o criou para acolher Lorde Shiva. De acordo com outra, Lorde Brahma haveria sacrificado dez cavalos em um yajna, que é um ritual de sacrifício, uma oferenda aos deuses também no Dashashwamedh Ghat.
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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Varanasi cidade dos deuses

Localizada às margens do Ganges com mais de 3 milhões de habitantes, Varanasi é uma das cidades mais antigas do mundo, considerada a cidade mais sagrada pela religião hindu. Ponto de encontro da tribo dos Sadhu, os homens religiosos com suas vestimentas cor de açafrão, que é associada ao fogo, o qual é considerado divino e necessário em muitos rituais religiosos.
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Ainda segundo o hinduismo, acredita-se que a cidade foi fundada por Shiva, o Deus hindu Destruidor (ou o Transformador), há mais de 5 mil anos. Contudo, estudiosos consideram a hipótese de que a cidade surgiu há cerca de 3000 anos. A verdade é que a data exata de sua fundação é desconhecida, já que as únicas fontes de informações partem das tradições hindus.

A cidade é um excelente ponto de compra de saris, a belíssima vestimenta típica das mulheres indianas. O tecido Banarasi e o leite Koha são considerados a marca registrada da cidade e suas indústrias são responsáveis pelo ganha pão de muitas famílias da região.

A cultura local está intimamente associada com o rio Ganges e sua importância religiosa. Sua parte antiga, próxima ao Ganges é repleta de labirínticas ruas estreitas que são ladeados por pequenas lojas e dezenas de templos hindus. A Cidade Velha é rica em cultura, e merecidamente um destino popular para viajantes e turistas. Varanasi tem cerca de 100 ghats, dos quais a maioria destinada a banhos, enquanto outros são usados como locais de cremação.

Os hindus acreditam que tomar banho no Ganges lava os pecados humanos e a possibilidade de morrer em Kashi (Varanasi, cidade sagrada na Índia) e ter as cinzas cremadas e atiradas no rio, também garantem libertação da alma de uma pessoa do ciclo de transmigração da alma ou reincarnação.
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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Chegada a Varanasi

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Ficamos na fila de espera do trem para Varanasi, nosso próximo destino que fica há 13 horas de Agra. O transporte ferroviário na Índia quebra um galho gigante e no final das contas tivemos a confirmação do embarque. E como previsto, incluindo o atraso (rs..) chegamos quase na hora do almoço.

Na estação, como de costume negociamos um tuk tuk para a região dos Ghats, que são as largas escadarias que dão acesso ao rio Ganges, ou melhor, próximo a elas, pois transporte de 3 ou 4 rodas não circulam por entre as estreitas e misteriosas ruinhas repletas de templos, vacas, pessoas e muuuitas motos.

O jeito então foi ziguezaguear a pé com nossas mochilas na ‘cacunca’, procurando uma hospedagem mais decente. Sobe escada, visita quarto, desce e anda mais um pouco, sobe e desce… ufa! E nesse vai e vem, andamos tanto que chegamos num dos Ghats, já pertinho do rio. Advinhem só… esse Ghat é um local de cremação super sagrado, lotado de gente.

Pensando depois no acontecido, a cena foi memorável… os dois turistas com suas mochilas gigantes, perdidos, suados, já mal humorados e ‘mortinhos’ de cansado… E eu continuava a nao entender porque todo mundo olhava pra gente, pensei com meus botões, uaaai… nunca viram turista? Os intensos cheiros de queimado e incenso subiram e a nossa ficha caiu… No final das contas achamos um pouso simpático, quartinho limpo e funcionários alegres. Valeu a pena o esforço.

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domingo, 9 de janeiro de 2011

A cidade fantasma

Aproveitando a passagem por Agra, esticamos nossa programação a Fatehpur Sikri, que ‘chato’, mais um belíssimo complexo arquitetônico tombado pela Unesco, de bobeira, pertinho da gente. Na verdade nem sabíamos da existência desse lugar. O casal belga da turma do safari de camelo nos contou sobre essa cidade e então, aproveitamos a oportunidade.

Pegamos um tuk tuk até a estação de ônibus de Agra, e assim que chegamos já avistamos uma turista dentro de um busão e aí pensamos, essa dona aí deve estar indo para o mesmo lugar que a gente… Batata, na pinta! Já entramos e por lá ficamos. Fatehpur Sikri fica a uma hora  de distância de Agra. Bom, pelo menos teoricamente, porque na prática a ‘coisa’ pode mudar. E mudou… nada demais, só um engarrafamento gigante que no final, só custou uma horinha de atraso e em compensação rendeu boas risadas enquanto vivenciamos o caótico, diversificado e colorido trânsito local.

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Fatehpur, erguida como a Cidade das Vitórias, foi capital do império Mughal por apenas 10 anos. O Imperador Akbar decidiu construí-la para homenagear o santo sufi Shaikh Salim Chisti, que previu o nascimento de seu filho, príncipe Salim.  Devido a falta de água, o local foi completamente abandonado, até a sua exploração arqueológica em 1892. A Cidade das Vitórias, tornou-se então a Cidade Fantasma.

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O complexo é composto por uma série de palácios, onde também residiam as esposas hindu, cristã e muçulmana do imperador. E segundo dizem, a esposa hindu era sua favorita e em consequência disso, ocupava o maior deles. Além de edifícios públicos, áreas para o tribunal, exército, servos do rei e para o restante da população o conjunto de monumentos e templos inclui uma das maiores mesquitas da Índia, a Jama Masjid.

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Fatehpur Sikri com seus monumentos em arenito vermelho, foi fruto de uma fase gloriosa do reinado Mughal e oferece uma mostra impressionante de sua arquitetura inspirada nos estilos indiano, persa e islâmico. Dizem que a forma e disposição da cidade influenciaram fortemente a evolução do urbanismo indiano, em especial na Shahjahanabad (Old Delhi), a parte velha de Deli. Vale a pena conferir.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Dia de Taj Mahal

Foi a mais linda história de amor
Que me contaram
E agora eu vou contar
Do amor do príncipe Shah-Jehan                                                                                                 
pela princesa Mumtaz Mahal
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê, Têtêretê
Tê Tê...
Uhou! Uhou!!!!!!

Agra é destino óbvio e super esperado na Índia. Apesar do nome não ser muito conhecido, a cidade abriga um Patrimônio da Humanidade que também é uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno. Pois é gente. Chegou o esperado dia de conhecer o Taj Mahal.

A cidade, apesar de ter muitos monumentos e história, não é uma terra de encantos e, chegando tarde da noite fica até um pouco assustadora. Mas não nos abatemos e fomos atrás de um pouso pra dormir.

Seguimos direto para TajGanj, região da turma mochileira e é claro, das acomodações econômicas. Após algumas tentativas frustradas achamos um ‘hotelzim’ bem fuleiro para dormirmos. Pela necessidade, nos acostumamos com nosso ‘novo’ quarto, mas confesso que durante a noite, tive a impressão de que o quarto mexia durante a noite e que estávamos sendo observados por outros seres vivos.

Assim que amanheceu, deixamos o pesadelo e fomos procurar um canto mais aconchegante. À luz do dia não foi muito difícil achar algo mais simpático. Já bem instalados, de banho tomado e descansados, fomos bisbilhotar a região às voltas do Taj, que pra ser sincero, não é um lugar muito inspirador, mas logo achamos a ‘vista perfeita’ de um dos vários restaurantes na cobertura dos hotéis da região para termos nosso primeiro encontro com o Taj Mahal.

De longe é bem interessante pois mistura a beleza de uma das 7 maravilhas do mundo com a bagunça de uma vizinhança pobre da Índia. Um tanto quanto exótico, curioso e real.

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Bom, mas não viemos até aqui pra ficar curtindo o Taj de longe, então, fomos dormir cedo pra ‘madrugar’ no outro dia e começar nossa visita sob a bela luz do nascer do sol e com menos turistas a vista. Vale ressaltar que aqui tudo é superlativo e mesmo quando falamos menos turistas, significa um monte de gente, pegar fila e esperar a vez para tirar fotos.

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O ‘sacrifício’ vale a pena e a beleza do lugar se apresenta desde o primeiro minuto. Com seus jardins e espelhos d’água, até parece um passeio pelo parque no domingão, com paradas para fotos e descanso no banquinho. Só faltou o carrinho de pipoca.

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Apesar de parecer um palácio, o Taj Mahal é na verdade um mausoléu e começou a ser construído no ano de 1632 pelo imperador Mughal Shah Jahan, em homenagem a sua terceira esposa, Mumtaz Mahal que morreu no parto do seu décimo quarto filho. É isso aí, foram 14 filhos de uma barriga só!

A história é triste, mas o monumento, provavelmente o mais fino exemplo da arquitetura Mughal, tem uma atmosfera super romântica e conta com detalhes inacreditáveis, como divisórias esculpidas em mármore e detalhes encravados em pedras semi preciosas que por si já são suficientes para prender a atenção por um dia inteiro.

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Sua construção contou com cerca de 20 mil trabalhadores e mais de mil artesãos de diferentes partes da Ásia e até Europa, responsáveis pelo fino acabamento. O resultado é algo difícil de descrever mas fácil de se apaixonar.

Ainda não satisfeitos com a beleza do lugar, dedicamos parte de nossa visita às divertidas (e bregas) fotos de turistas. :-)

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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O homem da omelete

Existem pessoas que se especializam numa única atividade durante grande parte de sua vida, e aprenderam a fazê-la muito bem. Além da habilidade prática, uma dose de bom humor, uma pitada de sorriso e uma colher de carisma são pontos essenciais. Anotou tudo? Pois esta é a receita de sucesso do Omelette Man, ou o Homem da Omelete, uma lenda viva em Jodhpur.

O pequeno negócio composto por um par de cadeiras, mesa de plástico em plena rua e pilhas de caixas de ovos parece ter sido iniciado há 30 anos e ainda encontra-se no mesmo local, ao redor da Torre do Relógio, em frente ao mercado central da cidade.

No início, seu Ramkishan Gawlani tinha outros pratos no cardápio, que com o passar do tempo, pararam de dar ‘ibope’. Enquanto isso, as omeletes, tornavam-se cada vez mais populares. Até que um belo dia, a família Gawlani descobriu a referência ao Omelette Man no guia de turismo Lonely Planet (a ‘Bíblia turística’ de 9 em cada 10 mochileiros).

À partir dai, o rumo da história mudou e Ramkishan transformou as omeletes como principal cardápio de sua barraquinha de lanche e o negócio cresceu e rendeu frutos. Um dos filhos toma conta de uma pequena loja de conveniência também localizada na movimentada entrada do mercado e a família já é proprietária de uma internet cafe.

O Homem Omelete afirma que vende em torno de 1.000 ovos por dia, principalmente na forma de omeletes. O ‘carro chefe’, recomendaçao do próprio Ramkishan é ‘masala omelete de queijo’, cujo segredo encontra-se na masala, uma combinação de temperinhos mágicos indianos que é adicionada e derretida junto ao queijo. Outro segredinho, esse fruto da experiência é o acréscimo de uma pitadinha de turmérico, para tirar o gosto forte de ovo.  E como toque final, a omelete é dobrada entre duas torradas e pronto. Aí é só alegria!

Ramkishan Gawlani, curte colecionar os louros da fama. Já foram várias reportagens e vários cadernos de recados ao longo da jornada. E nós não ficamos de fora, deixamos lá o nosso testemunho em português e inglês, recomendando essa experiência gastronômica e cultural, diretamente das ruas da Cidade Azul.

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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A Cidade Azul

Nem sempre contratempo significa algo ruim. No Rajastão tivemos dificuldades para comprar algumas passagens de trem e acabamos em Jodhpur, também conhecida como Cidade Azul, uma surpresa pra lá de agradável, especialmente tendo em conta que esta é a mais cidade mais antiga do estado.

A sua fundação antecede a de Bikaner em 30 anos, Udaipur em 100 e Jaipur em aproximadamente 300 anos. Talvez seja por isso que encontram-se aqui fabulosos palácios, templos, um agitado mercado, um forte e é claro, gente alegre e colorida.

Já na chegada em nosso hotel, Hare Krishna Guest House, encontramos uma atmosfera tranquila e funcionários simpáticos, sem contar que o restaurante na cobertura tem vista privilegiada do Forte Mehrangarh.

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Deixamos nossas mochilas no hotel e fomos bisbilhotar um pouco a cidade. Como de costume decidimos dar um pulinho no mercado local, para mais uma dose de cores, cheiros e diversão.

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Jodhpur ainda tem um charme extra. A cidade construída sobre uma grande colina rochosa, tem suas fachadas residenciais e comerciais pintadas em diferentes e harmônicos tons de azul; cobalto, azul celeste, marinho ou escuro, turquesa, safira… O sol é intenso e brilha praticamente o ano todo, e as tais paredes azuis desviam um pouco o calor, além de ter criado uma identidade super charmosa à cidade de aproximadamente 800 mil habitantes.

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Além de toda essa história empolgante, Jodhpur ainda tem o  Forte Mehrangarh ou Citadela do Sol, o imponente palácio-fortaleza que foi construído em 1459 e fica no alto da parte rochosa de Bhakurcheeria, proporcionando uma vista encantadora da Cidade Azul.

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Mehrangarh ou forte majestoso é o maior do estado do Rajastão, o qual foi construído no século XV e reformado nos séculos seguintes. O marajá de Mehrangarh ainda é vivo e vive em um palácio nas proximidades. Cara de sorte esse!

O marajá em questão é  o Maharaja Gaj Singhji II, que todos os anos oferece aos seus convidados um festão nos jardins do seu palácio, o UmaidBhawan (o qual dizem ser o maior edifício privado do mundo), para celebrar o festival de Holi. Uma celebração religiosa hindu que acontece na primavera, quando as pessoas atiram água e talco coloridos uns nos outros. É história que não acaba mais…

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domingo, 2 de janeiro de 2011

Safari de camelo

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Chegou o grande dia. Visitar o Rajastão, estar em Jaisalmer exige um safari de camelo. Não existe maneira mais original e divertida para se ter uma amostra da vida real no deserto.

A competição entre os organizadores de safari é grande, certamente os fatores preço e confiança, são levados em consideração. Como nosso tempo está curto, decidimos fazer o safari de um dia. Partimos de Jaisalmer por volta das 8h30 da manhã de jipe, rumo a um ponto de encontro, já nas bordas do Great Thar Desert (Deserto Grande Thar) com a trupe de quatro patas e seus donos. A maioria das agências apenas organiza o passeio e terceiriza o time dos condutores de camelo, de acordo com a demanda.

Ficamos um pouco surpresos com a grande quantidade de gente neste safari. Nossa turma foi composta por 14 pessoas: 2 americanos + 2 belgas + 2 brasileiros :-) 2 canadenses + 2 franceses + 2 ingleses + 1 holandês + 1 japonês. Além é claro da turma do deserto. E por comum acordo entre o grupo, seguimos juntos, numa peregrinação super animada. Parece que a maioria dos grupos costuma se separar para vivenciar a aventura com mais quietude.

O primeiro momento, como em qualquer situação é aquela parte de adaptação. Afinal, não é todo dia que cruzamos com essas figuras quase jurássicas e extremamente dóceis – isso a gente só descobre depois, hehehe… Pois bem, quebramos o gelo, fizemos amizade, filmamos, tiramos foto, enchemos o tanque de água, nos lambuzamos de protetor solar. Chapéu na cabeça e óculos de sol. Engraçadíssimos, típicos turistas em busca da aventura perfeita.

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Hora de subir no ‘bichinho’. Começa aí o primeiro desafio! Não sei se vocês já observaram, mas o camelo é um bicho alto. Tudo bem que ele é bem educadinho e abaixa pra gente subir, mas mesmo assim… Segunda parte, o camelo tem que levantar, é claro. Aí é; ‘segura peão’! Um arranco daqueles, mas tudo bem. Logo começa o trote. Hum… nada mal. Até que não é tão difícil. Tudo bem que rasguei um pedaço do dedo de tanta tensão segurando na montaria.

Após uns 20 minutos, já fizemos uma paradinha pra visitar uma vila. Ai foi aquele friozinho na barriga quando o bichão tem que abaixar pra gente descer. Essa vida de turista não é fácil, fico imaginando como a turma do deserto fica dando risada da gente.

Pra nossa surpresa, já que esperávamos as dunas de areia do Maranhão, o deserto do Rajastão é árido, com vegetação rasteira, uma árvore aqui e outra ali, umas até meio tortinhas como as do cerrado.

A ‘cavalgada’ foi pura diversão. Quem vê aquele bichão não imagina que doçura, tirando a altura, até parecia que estávamos na ‘cacunda’ de um cavalo mesmo. Pois bem, chegou a hora do almoço. A turma ‘cameleira’ super prática, já desfez a tralha, fez fogo, cortou cebola e vegetais num piscar de olhos. Depois de sapearmos a cozinha, nos mudamos para a ‘sala de estar’ dos turistas.

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A conversa foi regada a chazinho, ouvindo histórias de mochileiros dos quatro cantos do mundo. Enquanto isso, sombra fresca e os divertidos camelos, felizes da vida, curtindo seu momento de liberdade. De repente, o almoço ficou pronto; um cozidão de vegetais ao curry com macarrãozinho noodle (estilo ‘unidos venceremos’, hehehe…) e até um chapati quentinho.

Pois bem, barriga cheia pé de camelo na areia. Tivemos ainda uma pernada de umas duas horas, quando chegamos no nosso QG… depois de tanta planitude, veio o bônus, alcançamos as dunas, onde assistimos de camarote um belíssimo pôr-do-sol.

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Depois do jantar, encerramos a noite com fogueira, muito bate-papo e músicas típicas do deserto. Dormimos sob a luz das estrelas. Tirando o frio da madrugada foi tudo lindo! Um programa simplesmente I N E S Q U E C Í V E L…

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Ficamos super satisfeitos com nosso time de condutores de camelo. A empresa chama-se Ganesh Travels e parece trabalhar como uma cooperativa, onde os condutores são proprietários de seus animais. A mesma fica localizada dentro do Forte ganeshtravels45@hotmail.com Telefone: +912992250138

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Safari de camelo a vista? Lista de sobrevivência: Calça e blusa de mangas compridas, papel higiênico, protetor solar, óculos de sol, garrafa de água e porta garrafa com alças, frutinhas para tapear a fome ao longo do dia, saco de lixo e, se tiver, um saco para dormir para tornar a noite mais agradável.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Feliz ano novo

“Que em 2011 nenhum gesto de carinho seja adiado, nenhum ato de solidariedade seja esquecido, nenhum pedido de perdão seja negado. Que a paz seja mantida e os amigos multiplicados.”

Muita luz a todos!!!

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