terça-feira, 30 de novembro de 2010

Lumbini

 

Para os mais de um bilhão de budistas espalhados pelo mundo, Lumbini, um vilarejo a 22 km de Bhairahawa é onde tudo começou. O local do nascimento de Buda é considerado o local histórico mais importante do país, não apenas por ser o berço do budismo, mas também por ser o centro da mais significante descoberta arqueológica do Nepal; ruínas de trezentos anos antes de Cristo.

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Com o apoio das Nações Unidas, um parque religioso, dedicado ao budismo foi construído no local. Apesar da obra inacabada o projeto inclui monastérios, jardins, fontes e uma vila turística, que também ainda não existe. O Jardim Secreto, onde existem os tesouros arqueológicos, associados ao local de nascimento de Buda é de uma energia incrível. É possível passar o dia todo pelos seus jardins, meditando sob as árvores e absorvendo a intensa atmosfera de paz do lugar.

Outro passeio muito gostoso é uma caminhada pelos monastérios, fundados por países da comunidade budista de diferentes partes do mundo, em especial Ásia e Europa. A proposta é muito bacana, alguns desses monastérios disponibilizam dormitórios para peregrinos a um valor bem mais rasoável, como é o caso do Korean Monastery, ainda em fase de construção. Vários monastérios estão de portas fechadas, uns ainda em construção, já os antigos, já iniciaram um longo processo de reforma pois a verba parece ser curta.

Lumbini fica próxima à divisa com a Índia. O comportamento das pessoas me pareceu ter mais influência indiana do que nepalês. Confesso que fiquei assustada com a miséria e o cáos na terra de Buda. Para temperar positivamente essa impressão tivemos a sorte de presenciar um encontro de monjes e budistas dentro do parque. Apesar de  não entendermos a dinâmica do evento, nos pareceu que estava acontecendo um ritual de iniciação de monjes. Ao som de belíssimos mantras, por horas, os participantes de diferentes escolas meditavam sob uma frondosa árvore. Nos sentimos muito honrados em fazer parte desse momento.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Zig zag a caminho de Lumbini

Depois de uns dias bem gostosos em Pokhara, resolvemos partir para Lumbini no sul do Nepal, na divisa com a Índia.Lumbini é a cidade onde Buda nasceu, há cerca de 2500 anos, e hoje um dos pontos mais sagrados da religião.

No Nepal há duas formas bem distintas de viajar, uma por ônibus turísticos, que lembram muito os ônibus econômicos do Brasil, e a outra, através dos ônibus públicos. E como já nos tornamos bem locais, embarcamos na segunda opção.

Sem dúvida essa é a melhor forma de se conhecer os ‘verdadeiros’ nepaleses, e ver a vida como ela é. Mas nem tudo são flores, o processo pode ser bem sofrido. Normalmente, são veículos bem antigos, desconfortáveis e projetado para carregar pessoas com pernas bem menores que as minhas e as vezes até menores que as da Thaís. É mole? Daí, já viu, conforto zero.
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Não só isso, devido ao poder aquisitivo baixíssimo da população local, a única forma de viabilizar a maioria da linhas é através de super lotações, e os ônibus viajam na maior parte do tempo com duas ou até mais vezes sua capacidade. E adivinhe, desta vez não foi diferente.

Eu passei um terço da viagem dividindo um banco para dois passageiros com um homem e seu bebê de colo, o outro terço com uma mulher e uma criança de 10 anos e o trecho final fui em pé pois entrou uma senhora mais velha no ônibus e ninguém se manifestou para ceder o lugar. Sobrou então pra mim, provavelmente a pessoa mais alta da viagem (os nepaleses não são o povo mais baixinho que já conheci) para ir em pé no corredor, todo tortinho…
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Mas tudo é festa e a cena era tão engraçada que os locais se divertiram vendo o ‘espigão’ todo torto.
Um outro problema, provavelmente o maior de todos é o percurso, que apesar de ser uma das estradas mais bonitas que já conheci (não tive como fotografar pois estava muito apertado para tirar minha máquina da mochila) é super perigosa, bem estreita, a beira de vales altíssimos e formada somente por curvas, sem brincadeira, não lembro de nenhuma reta.

Imagine um liquidificador que cabe 20 pessoas, agora imagine que foram socadas 40 pessoas neste liquidificador e que além de bater em círculos, ele balança para cima e para baixo. Pois é, este é o sentimento dentro do ônibus. Não há ser humano que aguente. Quer dizer, eu e a Thaís até suportamos a viagem bem, mas os moradores locais não foram páreos para a aventura e, diria que provavelmente, 20 por cento do ônibus chamou o ‘Juca’ durante a viagem.

Se não fosse dramático seria engraçado, o cobrador fica todo o percurso distribuíndo saquinhos plásticos e cada pessoa tem um técnica diferente para dar a ‘gorfada’, uns são tão discretos que passam despercebidos, outros apoiam no parceiro, e alguns mais espaçosos pedem licença ao passageiro da janela antes da explosão final… ufa. Surreal.

Mas beleza, depois de 200 quilômetros percorridos em 8 horas, chegamos a Bhairawa, 20 quilômetros de Lumbini, agora é melzinho na chupeta. Só mais um taxi e em uma hora chegamos no nosso destino final.
Cansados, destruídos, mas vivos e felizes. Só falta energia para escrever sobre Lumbini, mas pode deixar que amanhã tem mais sobre a terra de Siddhartha Gautama.

Breaking news!! Antes que eu me esqueça. Após a Thaís aguentar firme à viagem de ônibus, foi só chegar na cidade que ela sucumbiu aos poderes da montanha e chamou o ‘Juca’. Mas pelo menos já estávamos no nosso destino final. Well done Thaís!

domingo, 28 de novembro de 2010

Mãos que enxergam

 

Esta semana recebi um presente muito especial do Fefê. Passeando pela avenida principal da região do lago de Pokhara, ele descobriu uma casa de massagem que trabalha com deficientes visuais.

Seeing Hands, ou Mãos que Enxergam, é uma instituição de caridade inglesa fundada em 2005, gerenciada por voluntários e que desenvolve um trabalho de treinamento profissional com moradores locais. O treinamento, coordenado por Rob Ainley e um time de experientes voluntários massagistas, dura cerca de um ano e meio e segue as normas internacionais do Instituto de Esportes e Massagem Medicinal de Londres (ISRM – Institute of Sports and Remedial Massage) e inclui detalhadas aulas de Anatomia, Fisiologia e Inglês. Além de 100 horas mínimas de clínica prática.

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Parte do dinheiro arrecadado é destinado à instituição, para fins de manutenção e treinamento de futuros profissionais. Segundo estatísticas da organização, existem mais de 600,000 pessoas cegas ou com a visão comprometida no Nepal e a previsão é que esse número aumente 20% ao ano. As causas são várias, 25% da população do país mora na zona rural, em situações de plena miséria. O acesso à educação e saúde pública, tristemente, ainda é extremamente limitado.

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Fui recebida pelo massagista Govinda Rijal que muito cordialmente se dispôs a me explicar um pouco como a casa funciona. Nessa meia hora de conversa fiquei surpresa com seu alto astral. Além de transmitir uma energia muito boa, Govinda que não é totalmente cego, não deixava escapar um só cliente, parava nossa conversa para saber como tinha sido a sessão, se tinham gostado e não faltava um agradecimento caloroso no final de cada dedinho de prosa.

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A minha massagista foi a Laly Bhyjal. Uma jovem com mãos de fadas. Saí até meio tontinha da cama de massagem e as clientes, na sala de espera, puderam ver a minha cara de feliz. Mãos que enxergam sim, com muito profissionalismo e sensibilidade.

 

Anote aí:

Clínica Seeing Hands – Pokhara

Em frente ao Parque Basundhara, próximo ao escritório da Empresa de ônibus Greenline, entre o Lago Phewa e Restaurante Tushita      Telefone: 465786

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Seeing Hands agora também em Katmandu:

Brahma Kumari Marg, Jyatha, próximo ao Restaurante Gaia Telefone: 4253513

www.seeinghandsnepal.org e www.seeinghands.blogspot.com

sábado, 27 de novembro de 2010

Pokhara zen

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Pokhara faz parte de uma importante rota antiga comercial entre China e Índia. No século 17 era parte do Reino de Kaski, parte dos Rajaya Chaubise (24 reinos do Nepal), governado por um ramo da dinastia Shah. Muitas montanhas ao seu redor ainda preservam ruínas medievais desta época.

Até o final da década de 1960 a cidade era acessível apenas a pé e foi considerada um lugar ainda mais místico que Katmandu. Acredite ou não, sua primeira estrada foi concluída em 1968 (Siddhartha Highway). A área ao longo do lago Phewa tornou-se um dos principais pólos turísticos do Nepal. A cidade oferece uma combinação de natureza e cultura, para a turma mais aventureira e alternativa e é mais conhecida como a porta de entrada para o trekking de rota ‘Round Annapurana’, que normalmente é uma caminhada de 25 dias - diversão de gente grande.

A margem norte do lago Phewa é, certamente, a principal área de Pokhara e equivale ao Thamel de Katmandu, repleto de lojas de conveniência, souvenirs, belíssimo artesanato ao som de música tibetana, infinitas livrarias, agências de viagem, hotels e albergues. Visualmente é bem convidativo e conveniente, não há como negar.
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Mas no fundo, não passa de um shopping center ‘zen’ para turistas, totalmente fora da realidade dos nepaleses. Novos negócios brotam como cogumelo após cada ‘monsoon’ (as intensas chuvas de verão) e, desaparecem na mesma velocidade. Os estabelecimentos são vendidos a preço de banana e logo logo, reabrem suas portas e renovam as esperanças para mais uma alta temporada. Boa sorte minha gente!
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Existe uma infinidade de restaurantes que servem da tradicional comida nepalesa, à culinária mexicana, italiana, japonesa e até arriscam um ‘steak’. Isso é engraçado, pois num país hindu, onde a dona vaca é sagrada, não faz muito sentido achar um bifão no cardápio. O forte aqui é carne de búfalo, que pra mim, não deixa de ser da família das vacas… vai entender! Nossa preferência é pelos pequenos restaurantes locais, aqueles que servem o autêntico rango feito na hora como; arroz, sopinha de lentilha, vegetais ao curry ou culinária tibetana com seus deliciosos momos (pronuncia-se mômo), uns bolinhos de massa fina cozidos no vapor, com recheio de vegetais, carne ou queijo, uma ‘dilícia’…
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Fonte: www.nepalhomepage.com e Rough Guide Nepal

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Rema, rema, remador

Se a canoa não virar,
Olê olê olê olá
Eu chego lá

Rema, rema, rema, remador
Quero ver depressa o meu amor
Se eu chegar depois do sol raiar
Ela bota outro em meu lugar

Emilinha Borba

Aqui pra nossas bandas, o tempo ainda não mudou muito, mas também não está tão ruim. Mesmo com o dia meio nublado e sem vista dos Himalaias, a temperatura é agradável e sempre se arruma algo pra fazer.

A pedida do dia foi fazer um passeio de canoa pelo lago Phewa, um dos maiores e mais bonitos do Nepal. Alugamos uma canoa próxima ao nosso hotel e saímos com destino a Anadu no outro lado do lago. Nada de estresse, remando devagar, curtindo o visual e até com inspiração para ler um livro no meio do lago.

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Depois de mais de uma hora curtindo nossa canoa chegamos no outro lado, onde escolhemos um restaurante isolado, com acesso somente pelo lago. Realmente pra nos deixar mal acostumados, um visual bacana, super sossegado e o restaurante só para nós. Quer dizer, nós e o Leão, nome que demos para a fera que toma conta do lugar.

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Almoçamos um delicioso arroz com vegetais ao molho massala, e aí já viu… rola aquela preguicinha tradicional. Antes que a situação ficasse mais crítica, pegamos nosso barquinho e voltamos sem pressa, devagar e sempre, com tempo ainda para conhecer uma pequena ilha no meio do lago onde fica um templo hindu.

O barato é que em lugares como essa ilha, os moradores locais ficão tão curiosos com a gente como nós ficamos com eles e sempre junta a maior moçada para conversar e tirar fotos.

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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

De volta a civilização

Os dias de calmaria do vale Kalesti se foram e chegou a hora de voltar para o cenário urbano. O destino agora é Pokhara.

Pokhara é conhecida por ter uma das vistas mais bonitas dos Himalaias e também por estar a beira do Lago Phewa. Mas sabe como são as coisas, acho que o nosso excitamento inibiu as montanhas e a tal vista tão comentada, ficou para outro dia. Mesmo em tom ‘cinza Londres’, o dia ainda foi super interessante. Aproveitamos novamente a hospitalidade do grupo do Butão e fomos passear com eles. Primeira parada World Peace Pagoda. Este monumento é visitado por budistas do mundo inteiro e celebra não só a vida de Buda, como também a paz mundial, por isso seu nome.

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Tivemos a sorte de visitar o monumento com um grupo de budistas e assim, conhecer um pouco mais sobre a religião. As mulheres do grupo ofereceram três músicas e danças a Buda, uma homenagem simples e super intensa. E um momento especial pra nós.pokhara3

A próxima parada foi um campo de refugiados do Tibet. Desde a invasão Chinesa do Tibet e fuga do Dhalai Lama da repressão chinesa no final da década de 50, milhares de tibetanos se refugiaram em três diferentes campos em Pokhara e mais alguns espalhados pelo Nepal.

Sem cidadania nepalesa e tentando preservar sua cultura, os Tibetanos vivem isolados nesses campos. A situação dos assentamentos nunca foi das melhores, mas nos últimos anos, com o desenvolvimento do artesanato e tapeçaria tibetana, os moradores locais conseguiram ampliar modestamente sua fonte de renda e passaram a viver com um pouco mais de dignidade. Mas a saudade de casa, o sonhado dia do retorno às origens, está claro em cada sorriso e em cada olhar…Pokhara4

Vamos torcer para que isso aconteça o mais rápido possível.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A fazenda

Nossos aposentos
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O troninho e a descarga
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A pia do banheiro…
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e da cozinha
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A máquina de lavar roupa…
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e de fazer gols
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Programa de sábado a tarde
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Vista do quintal
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Turma do barulho
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Escritório do Pedecachorro.info
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Hora de partir

Terminamos a etapa do trabalho voluntário e agora é hora de conhecer um pouco mais do Nepal. Daqui levaremos muitas boas lembranças e saudades dos novos amigos.

A despedida foi especial. No nosso último dia na fazenda um grupo de agricultores do Butão – isso mesmo, aquele país beeem pequeno, do tamanho de um… botão, enfiado no meio das montanhas – (risos) chegou para uma visita técnica. Nunca pensei que conheceria alguém de lá e, quem diria, 16 butaneses, numa sacada! Adorei a chance de bater um papinho e conhecer um pouco mais sobre seu povo e sua cultura.

Com rios de água cristalina, florestas coloridas e fauna com direito a tigres, elefantes, rinocerontes e pandas, o país é chamado de “último éden”. Um paraíso também localizado no Himalaia. Com tantas credenciais, o país poderia virar um dos maiores pólos turísticos do mundo. Mas não. O turismo é limitado para não prejudicar a cultura nem o meio ambiente. Parece existir no país uma espécie de consumação mínima, que inclui hospedagem, alimentação, guia e transporte. Em média, são uns 300 dólares por dia, o que significa que o Butão é uma experiência para poucos… Se um dia você conhecer essa banda de lá, não deixe de nos contar como foi essa experiência!

Além disso, houve uma recepção super bonitinha de boas vindas para o grupo, com música, dança e comida tradicional e, nós é claro, não ficamos de fora dessa comemoração. Nos despedimos da fazenda, em ritmo de festa. E para nossa surpresa, também recebemos uma homenagem típica nepalesa, com flores e tika. Tenho que confessar, ficamos super empolgados de testa pintada! rs…

E para fechar com chave de ouro ainda ganhamos uma carona para Pokhara com a turma do Butão. Show de bola.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Chapati

Trabalho na fazenda não é só capinar, tem que ir para cozinha também. E como eu adoro esta parte, não penso nem duas vezes antes de ajudar a preparar as refeições, pois assim aproveito para aprender um pouco da culinária local.

Uma das coisas que eu mais gosto é o chapati, uma versão nepalesa/indiana do pão sírio e que aqui na fazenda é servido todas as noites com vegetais ao curry e sopa. Não perdi tempo e fui aprender a fazer este pão.

Agora que peguei a ‘manha’ do preparo fiquei responsável por sua produção. O que é melhor, toda noite tem chapati fresco, sendo essa a última parte da janta a ser preparada, assim, sempre comemos pão quentinho.

Todo dia, por volta das 18h30 vou pra cozinha começar a preparar a massa, esticar cada pãozinho e antes das 20h já estamos comendo nossa janta nepalesa com chapati fresquinho.         Hum que delícia!
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Voluntariado

Voluntariado é o ato de trabalhar por boas causas sem pagamento. Existem vários benefícios em sua prática, como por exemplo, a oportunidade de conhecer novas pessoas, praticar uma língua diferente,  descobrir talentos que poderão ser importantes na busca de um emprego ou uma possibilidade de mudança na carreira e porque não, pelo simples fato de sentir um gostoso sentimento em fazer algo pelo próximo.
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Por tudo isso (e muito mais)  nos sentimos motivados a dividir essa oportunidade com alguma atividade comunitária. Destinamos então, parte das férias às atividades voluntárias. Ainda em Londres Fernando nos cadastrou numa agência online www.workaway.com, a qual possui um vasto banco de dados de institutições e pessoas físicas à procura de trabalho voluntário nos quatro cantos do mundo. Vai a dica; se você tem interesse no assunto, está aí uma super oportunidade de fazer uma viagem única; conhecer um país e uma cultura diferente, ter acesso à comunidade local e de quebra, fazer parte de um projeto social importante na vida de muita gente…
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Pois bem, estávamos em dúvida entre Nepal e Índia. Resolvemos então, nos cadastramos em vagas disponíveis nos dois países e, para nossa surpresa, tivemos mais de uma resposta positiva nos dois países, porém uma delas, cobrava uma colaboração salgada para o nosso bolso, aí ficamos na dúvida sobre qual destino seguir. Como a turma do Nepal foi a primeira a nos responder e também pelo fato de cultivarmos uma curiosidade extra pela terra dos Himalaias, optamos trilhar esse caminho.

Mas lembre-se, trabalho voluntário também requer comprometimento. Na maioria das vezes, você trabalhará um número x de horas por dia, por x dias da semana, em troca, possivelmente terá hospedagem e alimentação de graça. E nos dias de folga, poderá aproveitar para conhecer a região. Todos esses detalhes, são conversados com antecedência para evitar desapontamentos.
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Lembre-se também de pesquisar sobre a cultura do país e veja se está disposto a entrar no ritmo pelo período acertado. Leia, pesquise, releia. Costumes e diferentes tradições regem vários países do Oriente Médio e Ásia. Em alguns lugares, a população é tão pobre que sua maioria nunca teve meios de conhecer um país diferente e só conhecem o mundo exterior através do turista. O Nepal é exatamente um caso destes. Isso quer dizer, que cabe ao turista, ter sensibilidade e respeito por suas crenças e valores.

Tempo de dividir


Sabe como é o ser humano… nunca tem tempo! (risos). Lá venho eu novamente com as histórias… Minha mãe tem esse sábio dizer que é fato; “tempo e dinheiro é questão de preferência“. Nossa desculpa pra tudo nessa vida é que não temos dinheiro e não temos tempo suficiente. Mas no fundinho, sabemos que isso não é verdade. O pulo do gato é aprender a administrar melhor o tempo,  ai sim a coisa muda de figura… E no final das contas, sempre é possível doar um pouquinho do nosso precioso tempo.

Essa doação não precisa ser financeira. É um processo de descobertas e, o mais importante é doar de coração. Só pra aquecer a imaginação e prepará-lo para uma atividade voluntária num futuro próximo, segue aí uma pequena lista de doações diárias do nosso dia-a-dia.

- Ao acordar, encha os pulmões da alma, pense e respire fundo, bom dia dia!
- Ainda na cama agradeça a Deus por mais um amanhecer e deseje paz, harmonia e mais tolerância ao mundo.

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- Um minuto de atenção já vale, então ouça as pessoas de verdade, com os ouvidos e o coração.
- Dê uma mãozinha nas atividades do lar; arrume a mesa para o almoço, lave as louças, dê água a planta, limpe o cocô do cachorro, ajude nas compras, divida seus momentos com a família.
- Dê bom dia ao vizinho, quem sabe até com um pedaço de bolo ou pãozinho de queijo (huuum, eu queria ser o seu vizinho…).
- Liberte a criança que existe em você.
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- Na sequência… inspire as crianças, afinal elas aprendem através do exemplo.
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- Seja paciente e gentil com os idosos, eles precisam de mais tempo e carinho.
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- Elogie mais, afinal todo mundo gosta de ouvir coisas boas. Elogie você mesmo, seus filhos, amigos, chefe, colegas de trabalho e por aí vai…
- Trate seu companheiro (a) com amor e respeito e continue elogiando! rs... Você vai descobrir que tem um verdadeiro tesouro em casa.
- Sorria! O sorriso tem um efeito contagiante e transforma o astral de qualquer ambiente.
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Siga o seu ritmo. Comece em doses homeopáticas, mas não deixe de praticar. Quando menos esperar sua árvore estará carregada de doces frutos.

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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Notícias do fim do mundo

Bicho urbano

Se disser que prefiro morar em Pirapemas
ou em outra qualquer pequena cidade do país
estou mentindo
ainda que lá se possa de manhã
lavar o rosto no orvalho
e o pão preserve aquele branco
sabor de alvorada.
 
A natureza me assusta.
Com seus matos sombrios suas águas
suas aves que são como aparições
me assusta quase tanto quanto
esse abismo
de gases e de estrelas
aberto sob minha cabeça.

Ferreira Gullar

Desde o primeiro instante, ainda dentro do onibuzinho rural, iniciei meu processo de adaptação, pois a cada curva da estradinha esburacada, eu percebia que estava me distanciando mais e mais da civilização. E o caminho foi loooongo… e o onibuzinho chacoaaalhava… e eu pensaaava, “meu Deeeus que fim de mundo é esse”…

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Ainda nao tenho muita intimidade com os animais, principalmente quando ouço histórias de leopardos e tigres que rondam a região a noite… mas já estou muito mais tranquila quando vejo aranhas, sapos, lagartixas, calangos e ratos e nem dei chilique quando achei uma sanguessuga enrolada no meu cabelo, grudadinha na minha nuca. Também estou muito mais íntima da privada de buraco e dos banhos de água fria. E olhem que eu tomo banho todo dia! hehehe...

Por outro lado, Fefê está se saindo um Chico Bento de mão cheia, participa de várias atividades na ‘lida diária’ e até já tem uma pequena coleção de calos pra confirmar a história. Também aprendeu a fazer o pao local (chama-se Chapati) e até já rolou um risoto de abóbora na nossa janta ‘orgânica vegetariana sazonal rural’. A turma adorou. 

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Dificuldades a parte, a experiência vem sendo gratificante. Os nepaleses são um povo muito simples e hospitaleiro, porém, o país é muito pobre e sofrido. Dá uma dor grande no coração ver tanta gente largada vivendo de forma tão miserável. Segundo a organização internacional, WaterAid, 42% da população do país, vive abaixo da linha da pobreza. Mas mesmo com tanta carência, é um povo muito bonito, gentil e trabalhador. E apesar da poluição, a natureza foi muito generosa por aqui.

“Meu Deeeus que fim de mundo é esse”... Obrigada Senhor por ter me apresentado esse fim de mundo, obrigada pela oportunidade de ter conhecido essa terra e essa gente tão hospitaleira.

sábado, 20 de novembro de 2010

Para o alto e avante!

Vir ao Nepal e não fazer pelo menos um trekking é a mesma coisa que não vir pra cá. Pensando assim embarcamos em mais uma aventura.

A idéia no entanto era um pouco diferente dos roteiros turísticos. Saímos da fazenda onde estamos hospedados no Vale Kalesti e fomos em direção a Tanahunsur, o morro mais alto da região, com a intenção de ter uma vista mais privilegiada dos Himalaias e também conhecer alguns fazendeiros orgânicos da região.
Um pouco antes das oito da madruga já estávamos a caminho para aproveitar a brisa da manhã. Nossa rota era sempre morro acima, por cerca de 4 horas até chegarmos em Tanahunsur.

A caminhada pela manhã é bem mais agradável mas traz também um pequeno problema, a neblina. Nesta época do ano, o dia sempre começa com muita neblina e vai limpando calmamente até que todas as nuvens desaparecam e o dia fique lindo com o céu azulado.

A sorte não estava muito do nosso lado e a manhã foi toda coberta por uma densa neblina, com pouca visibilidade. Mal podíamos ver o o que estava a nossa frente, quanto menos curtir a vista da montanha. Mas sendo sincero, acabou que nos divertimos muito, o visual era tão diferente que nos sentíamos em um filme de terror.
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A subida não foi fácil e demorou mais do que esperávamos, mas ao chegarmos em Tanahunsur fomos recompensados. Como de costume aqui no Nepal, fomos super bem recebidos na casa de uns fazendeiros e tivemos a chance de saborear um delicioso ‘Dal Bhat’, tradicional prato local que iremos descrever um pouco mais pra frente aqui no blog, numa típica casa de fazenda da região.
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Após nosso grande almoço e com as baterias recarregadas, pelo menos um pouquinho, fomos apresentados para a família Rana. Esta turma da pesada está criando um projeto super legal para desenvolver projetos ligados à agricultura orgânica e criar novas escolas no topo da montanha, tentando assim gerar incentivos para que a população local possa ficar na região e não migrar para as cidades, uma tendência comum aqui no Nepal e que acarreta muitos problemas sociais e ambientais pelo país.

Foi uma oportunidade única de conversar com pessoas de Tanahunsur e entender um pouco mais sobre suas realidades, além de conhecer algumas alternativas para os problemas locais.

Mas nosso dia não acabou ali e ainda tínhamos um último morro para subir, o mais íngrime de todos. A Thaís, que até aqui resistiu a caminhada brilhantemente, resolveu ficar e guardar as energias para nosso retorno, aproveitando para conversar mais um pouco com nossos novos amigos e ‘roubar’ umas laranjas da propriedade.

Eu e Devraj enfrentamos o último desafio com mais 45 minutos de forte subida, para sermos recompensados. Finalmente, no topo da montanha tivemos a chance de apreciar a vista, que ainda com muitas nuvens, infelizmente, não nos deixou - ainda curtir os Himalaias completamente… é mole?

Mas os Himalaias não são tudo por aqui e a vista panorâmica de toda região era muito bonita, mais que suficiente para nos deixar felizes e satisfeitos com nossa aventura. Podíamos ver tudo, por muitos quilômetros, avistando até o Vale Kaleste, onde nossa fazenda está localizada. Demais!

Era hora de encontrar a Thaís e voltarmos para casa. O retorno foi bem cansativo mas recompensador, visual bacana do início ao fim. Chegamos a fazenda no pôr-do-sol com os pés destruídos mas a mente feliz e descansada. É bom estar de volta à nossa casinha na roça.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Destino Kalesti

Nem todo dia aqui na fazenda é muito movimentado e quando dá uma folginha é uma ótima oportunidade para conhecer melhor a região.

Hoje a Thaís resolveu ficar escrevendo e cuidando de suas fotos e vídeos e eu, com fogo no ‘fiofó’ resolvi dar um ‘rolé’ com destino a Kalesty seguindo o rio que tem o mesmo nome. Ninguém da fazenda quis me acompanhar mas eu fui assim mesmo curtir a tarde na beira do rio.

Além de possuir uma beleza natural muito bonita, esta região apesar de ser rural, é bem habitada e sempre há uma chance de encontrar gente nova pelo caminho e conhecer um pouco mais dos hábitos locais.

O vale do Rio Kalesty é predominantemente coberto por plantações de arroz, e como estamos agora no período de colheita, fica tudo agitado com muita gente trabalhando às suas margens.

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Esta tarde, no início da minha caminhada, resolvi visitar um grupo de fazendeiros que venho observando há dias, da varanda da fazenda.

É bonito ver a forma rudimentar e artesanal que eles ainda usam por aqui. A colheita é um momento importante para estas famílias e todo mundo é envolvido no processo; homens, mulheres e crianças.

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Para as mulheres a tarefa é ainda mais difícil, pois além de ajudar no trabalho pesado da plantação elas preparam a alimentação de toda a família e ainda cuidam das crianças.

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Mas o que me chama sempre a atenção é que não importa o quanto seja duro o dia destas pessoas, eles sempre nos recebem com um sorriso maravilhoso e grande atenção. É difícil ver um nepalês mau humorado por aqui.

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Após curtir um pouco a colheita do arroz, continuei minha caminhada até o Rio Madi, um dos mais importantes da região até chegar em Kalesty. O fim de tarde nesta vila é bem diferente do restante do dia. As crianças estão saíndo da escola e retornando às suas casas, as ruas, pontes e trilhas que cruzam as fazendas ficam mais coloridas e divertidas sob o sol de luz dourada.

Já fiquei amigo de um monte de criança que adora ser fotografada e brincar com os estrageiros, que eles vêm muito raramente.

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Depois da diversão com as crianças é hora de voltar pra casa antes que a noite caia e curtir uns últimos minutinhos de sol a beira do Rio Kalesty.

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