terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Peeble Garden

Deepika e Bernard são as mãos e o coração por trás do Peeble Garden, ou Jardim de Pedra, originalmente, uma terra de solo pobre e arenoso, onde só existia pedra sobre pedra. O bacana dessa história é que o solo local vem sendo reconstituído sem nenhuma entrada de fora, como terra de composto, através de permacultura, cujo princípio parte da utilização de métodos ecologicamente saudáveis e economicamente viáveis, que respondam às necessidades básicas sem explorar ou poluir o meio ambiente e finalmente, que se tornem auto-suficientes a longo prazo.

A recomposição do solo vem sendo feita através da reciclagem da vegetação pioneira já existente, fazendo-se uso de métodos simples e caseiros, como po exemplo, através do aproveitamento da flora local; camadas de folhas de acácia e lodo de lagos são espalhadas pelo solo e o restante da obra fica a cargo de cupins e minhocas. O trabalho de construção dos solos continua a cada estação e nesse ritmo o jardim vem crescendo devagar e continuamente. Já são 1.000 metros quadrados de horta.

A permacultura aproveita todos os recursos disponíveis, e também, cada elemento presente na composição natural do espaço. Mesmo os excedentes e dejetos produzidos por plantas, animais e atividades humanas são utilizados para beneficiar outras partes do sistema.

Segundo o casal, o objetivo principal do Peeble Garden não é o cultivo de legumes, mas sim produção e cultivo de sementes de variedades raras, raízes e plantas medicinais e fitoterápicos, que requerem pouca água. Por exemplo, já são 15 variedades de berinjela orgânica.

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As sementes são distribuídas para os agricultores e jardineiros de Auroville e também para toda a Índia.E sempre que possível, Deepika e Bernard participam de feiras de sementes na intenção de incentivar mais pessoas a cultivarem seus próprios jardins. Já são cerca de 3.000 pacotes de sementes de hortaliças distribuídas anualmente. 

"Tentamos desenvolver plantas que não são comuns e consequentemente não podem ser encontradas facilmente. Muitas espécies estão ameaçadas, pouco cultivadas e suas sementes raramente disponíveis. A área já conta com 90 variedades diferentes de plantas", acrescenta Deepika. Um novo aspecto do Peeble Garden é a educação e partilha de conhecimentos.

O projeto começou como um jardim experimental, uma tentativa de se reviver áreas severamente desgastadas. A história criou força e evoluiu para a produção de sementes e um centro de estudos de pequeno porte recentemente foi adicionado para comportar voluntários. Essa é a contribuição do Peeble Garden, a manifestação de esperança de um casal que acredita que um dia haverá terra fértil suficiente para acolher todo o planeta, e as variedades em risco de extinção, farão parte de um passado beeem distante.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Rotina zen

Pois então, depois de muita teoria e pesquisa, chegou a nossa hora de conhecer Auroville, ou pelo menos uma amostra dessa sociedade alternativa (viva, viva, viva a sociedade alternativa!!!). Ficamos hospedados numa Guest House chamada Aspiration, localizada na bordinha de fora de Auroville propriamente dita.

A estrutura dessa casa de acomodação, assim como de muitas outras é composta por uma parte fixa, que são os moradores locais; indianos em sua maioria e alguns estrangeiros, além dos visitantes, como nós no caso. O visitante paga uma tarifa diária por pessoa e tem direito ao quarto e 3 refeições.

A acomodação é simples e aconchegante e o ambiente descontraído, repleto de verde por todos os lados. Os quartos são relativamente isolados uns dos outros mas na hora das refeições é possível socializar com a turma local. Numa dessas, conhecemos o professor Rajin, uma figura super simpática e antenada. Gracas a ele, descobrimos várias atividades culturais espalhadas pela cidade e o melhor, de ‘grátis’!

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Para nos locomover, alugamos uma mobilete, sim, isso mesmo! Passear de mobilete foi uma das coisas mais divertidas que fizemos por essas bandas. Geralmente começavamos o dia na boulangerie com um super croissant de queijo e chocolate (sentiram aí o cheirinho do croissant quentinho?) e de lá, íamos desbravar a vizinhança, algum projeto da comunidade, ou fazer aula de yoga e no final do dia, parada obrigatória para o chazinho é claro!

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Os dias em Auroville foram tranquilos e inspiradores. A cidade respira yoga e meditação. Crianças, adultos e idosos ‘espigadinhos’ e na mesma sintonia, saudáveis e com uma postura aparentemente mais otimista pra vida. Felizmente, também fomos contaminados por essa onda de bem viver.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Um lugar chamado Auroville

Auroville não pertence a ninguém em particular, pertence à humanidade como um todo. Para se viver em Auroville é necessário ser o servidor voluntário da Consciência Divina. Esta cidade será o lugar de uma educação sem fim, de progresso constante, e de uma juventude que nunca envelhece; a ponte entre o passado e o futuro, um lugar de pesquisas materiais e espirituais”. A Mãe

Auroville é um município experimental projetado pelo arquiteto Roger Anger, localizada no distrito de Viluppuram, no estado de Tamil Nadu, próximo a Puducherry no sul da Índia. Foi fundada em 1968 como um projeto de Sri Aurobindo e Mirra Alfassa, "A Mãe", que era sua colaboradora espiritual. O desejo da Mãe é que essa cidade experimental contribuísse significativamente no "progresso da humanidade rumo ao seu futuro esplêndido, reunindo pessoas de boa vontade e aspiração por um mundo melhor." A Mãe também acreditava que essa cidade universal também contribuiria para o renascimento indiano. O município também conta com o apoio da Unesco. 

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Na cerimônia de inauguração em 28 de fevereiro de 1968, representantes de 124 países e de 23 estados indianos colocaram numa urna no formato de flor-de-lotus, uma mão cheia de terra de seus respectivos países de origem. Um ato simbólico de união humanitária. O propósito de Auroville é ser uma cidade universal onde homens e mulheres de todos os países são capazes de viver em paz e harmonia progressiva, acima de todos os credos, toda a política e todas as nacionalidades. O propósito maior é realizar a unidade humana.

Auroville é uma mistura dos ideais de igualdade humana e evolução espiritual e uma realidade intrigante para o restante do mundo. Já são aproximadamente 90 assentamentos divididos entre áreas de socialização como cozinha comunitária, biblioteca, anfiteatro etc e comunidades de tamanhos variados, somando mais de 2 mil habitantes de aproximadamente 40 nacionalidades, sendo que dois-terços dos ‘aurovilianos’ são estrangeiros. O que certamente atrai criticismo de fora; seriam esses estrangeiros um bando de gringos excêntricos, vivendo num condomínio rústico no meio do caos com propósitos espirituais? Para alguns sim, mas talvez não para todos.

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A pequena cidade é mantida com doações privadas e apoio de organizações nacionais e internacionais. Os moradores estão envolvidos num variado leque de atividades, que vão de pesquisas na área econômica, regeneração ambiental, agricultura orgânica e permacultura, energias renováveis, tecnologia de construção, desenvolvimento de comunidades, artesanato e desenvolvimento industrial em pequena escala para a comunidade local, saúde, educação entre outras.

O sonho de se construir uma nova proposta de cidade para o futuro, também atrai arquitetos e estudantes de arquitetura de todo o mundo desde o final dos anos 60. Não estar vinculado às convenções tradicionais do processo de criação e construção, vêm permitindo uma infinidade de expressões arquitetônicas ao longo do desenvolvimento de Auroville.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O sonho

“Deve existir um lugar na terra onde nação nenhuma possa clamar como sua e os homens de boa vontade que têm uma sincera aspiração possam viver livres como cidadãos do mundo e obedecer a uma única autoridade, aquela da suprema verdade.

Um lugar de paz, concordância e harmonia onde todos os instintos humanos de luta sejam usados exclusivamente para conquistar as causas do sofrimentos e tristezas, para superar fraquezas e a ignorância e triunfar sobre limitações e incapacidades. Um lugar onde as necessidades para o espírito e a preocupação pelo progresso tenham prioridade sobre a satisfação dos desejos, paixões e procura pelo prazer e satisfação material.

Neste lugar, as crianças teriam a possibilidade de crescer e se desenvolver integralmente, sem perder contato com a alma; educação seria dada não com o propósito de aprovação nos exames ou obtenção de certificados e postos, mas para enriquecer as faculdades humanas já existentes e trazer outras mais.

Neste lugar, títulos e posições seriam substituídos por oportunidades de servir e organizar; as necessidades físicas diárias de cada um seriam tratadas igualmente; e superioridades intelectual, moral e espiritual seriam expressadas numa organização maior, não no aumento dos prazeres e poderes, mas pelo aumento das tarefas e responsabilidades de cada um.

A beleza, em todas suas expressões artísticas, sejam elas pintura, escultura, música e literatura seriam igualmente acessíveis a todos; a habilidade de dividir e a satisfação que a mesma traz seriam limitados apenas pela capacidade de cada um e não por posição social ou financeira.

Nesse lugar ideal, dinheiro não mais seria o todo poderoso; pessoas valiosas teriam uma importância muito maior que aquela do mundo material e status social. Lá, trabalho não seria uma maneira de sobreviver, mas sim de se expressar e desenvolver capacidades e possibilidades, enquanto estando a serviço da comunidade como um todo, o que por si, proveria a subsistência do indivíduo e sua participação na comunidade.

Em suma, seria um lugar onde os relacionamentos humanos, que são normalmente baseadas na competição, seriam substituídas por relacionamentos na intenção de se fazer o bem, de colaboração e real irmandade”.

 

Mirra Alfassa – “A Mãe”, Agosto 1954

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Embarque nesse trem

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Antes de chegarmos ao nosso próximo destino, nós ‘mineiríssimos da gema’, não poderíamos deixar de comentar sobre os trens na Índia e, diga-se de passagem, que ‘trem bão sô’! Tá certo que não são simpáticos como as máquinas a vapor da Europa, mas tudo bem, o importante é que funciona. Ficamos sonhando acordados se o nosso Brasil também tivesse um sistema ferroviário eficiente para transportar pessoas, afinal potencial de sobra temos pra isso. Assim seriam menos aviões no ar, consequentemente menos poluição, mais contato com a natureza e mais diversão pra toda família.

Com 64,000 quilômetros de vias ferroviárias e aproximadamente 6.900 estações, a rede ferroviária da Índia é a terceira maior do mundo depois da Rússia e China, o segundo maior do mundo em termos de passageiros, em torno de 20 milhões de passageiros por dia. A Indian Railways é também a maior empregadora do mundo, com mais de 1,6 milhões funcionários.

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Dizem que a única maneira de se descobrir a verdadeira Índia é viajando-se de trem. Nenhuma visita será completa sem o barulho e a movimentação das estações ferroviárias e já dentro do vagão, o grito do vendedor de chá, ‘o chaaai’, vindo pelo corredor, ou o choro das crianças a bordo (rs…) entre outros sons.
Esqueça aquela memória dos trens suburbanos superlotadas com pessoas sentadas no telhado. Em viagens de longa distância por exemplo, existem oito classes diferentes. Os assentos e camas são reservados, o bilhete é checado e o percurso é seguro, barato e relativamente confortável, apenas um pouco barulhento, afinal aqui é a Índia!
Desde 1853, as estradas de ferro do país têm sido uma força unificadora. Não só fisicamente ligando regiões distantes, mas também, diferentes castas, línguas e religiões que compõem esta diversificada nação. Famílias, estudantes, trabalhadores que vão e que vêm, soldados, turistas etc etc. Essa grande instituição reflete o próprio país. Muitas são as faces e variadas são as histórias, nas estradas de ferro do grande planeta Índia.

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Obs.: Pensando em viajar de trem por esse mundão de Deus? Não deixe de pesquisar o      www.seat61.com – Vale muito a pena, e além disso você pode descobrir de onde o nome ‘seat 61’ ou assento 61 surgiu. 
Fonte: www.seat61.com, BBC Ásia

sábado, 15 de janeiro de 2011

De norte a sul

Nossa temporada no norte chegou ao final. Não por falta de opção, porque esse problema não existe no ‘Planeta Índia’. Mas sim, por falta de tempo. Vou contar uma coisa, se você pensa em visitar esse caótico, intenso, diversificado e colorido país, reserve aí no mínimo uns dois meses. Tudo bem, a gente sabe que quase ninguém tira férias prolongadas,  e que isso é coisa de mochileiro à toa! kkk…

E nesses intensos meses de viagem, conhecemos pessoas que estão viajando há muuuuito tempo. Por exemplo, um holandês que já visitou a Índia 15 vezes - detalhe, e na sua primeira viagem, ele veio de ônibus da Holanda até aqui, é mole? Ou o inglês que chegou aqui de bicicleta. Sim, ele veio do País de Gales até Varanasi de bike e sozinho! Recentemente conhecemos uma querida nova amiga que está viajando há dois anos e meio. Em breve falaremos mais dela.

Vir para estas bandas sem passagem de retorno comprada é um risco… pode ser que você mude de idéia, jogue tudo para o alto e resolva ficar de mala e cuia! hahaha… Mas é serio, dá vontade de ficar mais e explorar mais. Talvez sejam a ‘diversidade-intensidade’ que fazem o holandês voltar aqui por todos esses anos.

Tudo bem, esse não é o nosso caso, vamos voltar a realidade! rs… Como o tempo está curto, já temos compromisso no sul e queríamos vivenciar o transporte ferroviário, resolvemos fazer esse trecho da viagem de trem mesmo. O itinenário total: Varanasi no estado de Uttar Pradesh para o Chennai em Tamil Nadu beeem lá no sul. Tivemos que fazer uma parada nesse trajeto porque não existe trem direto e a distância é grande. Fizemos então, Varanasi a Jhansi, uma cidade tranquila (para os padrões indianos é claro) onde encontra-se uma das maiores junções da malha ferroviária do país. Ou seja, passamos por lá por necessidade, apenas para fazer conexão para o sul. Foram 13 horas de viagem. Passamos o dia em mais um ‘hotelzim’ e de madrugada pegamos outro trem para o Chennai.

Já tínhamos ouvido falar que atrasos acontecem. É verdade! Nossa conexão estava prevista para a 1h30 da manha. Mas acabou chegando apenas às 4h30. Foi um chá de cadeira incrível (ou terrível). A estação estava lotada, fazia frio, não tinha um banquinho pra sentar, nem banheiro, nem chá… o jeito foi sentar nos mochilões e abrir um livro para matar o tempo e tapear o sono.

Tirando o atraso, nosso percurso de trem de 30 ‘horinhas’ foi bem mais tranquilo do que imaginamos. Chegamos são e salvos e já cheios de energia no Chennai, onde fomos direto para a rodoviária para pegar um ônibus de 5 horas para Puducherry e de lá, pegar um tuk tuk até nosso destino final, Auroville. (zzzzz… a pilha está acabando!)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A cerimônia do fogo

Fumaça de incensos ao som dos sinos e cantar dos fiéis, às margens do Ganges compõem o cenário de uma encantadora tradição de honra.

Um grupo de religiosos realizam diariamente no início da noite a Agni Pooja ou  Puja (culto) ao Fogo. A puja de fogo é uma cerimônia em homenagem ao rio Ganges, Sol, deus Shiva, Fogo e todo o universo e é realizada pelos jovens sacerdotes brâmanes.

O culto é realizada no Dashashwamedh Ghat, o ghat mais visitado por peregrinos hindus devido a sua proximidade ao Templo Vishwanath . Duas mitologias hindus são associadas a esse ghat: Segundo uma delas, Lorde Brahma o criou para acolher Lorde Shiva. De acordo com outra, Lorde Brahma haveria sacrificado dez cavalos em um yajna, que é um ritual de sacrifício, uma oferenda aos deuses também no Dashashwamedh Ghat.
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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Varanasi cidade dos deuses

Localizada às margens do Ganges com mais de 3 milhões de habitantes, Varanasi é uma das cidades mais antigas do mundo, considerada a cidade mais sagrada pela religião hindu. Ponto de encontro da tribo dos Sadhu, os homens religiosos com suas vestimentas cor de açafrão, que é associada ao fogo, o qual é considerado divino e necessário em muitos rituais religiosos.
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Ainda segundo o hinduismo, acredita-se que a cidade foi fundada por Shiva, o Deus hindu Destruidor (ou o Transformador), há mais de 5 mil anos. Contudo, estudiosos consideram a hipótese de que a cidade surgiu há cerca de 3000 anos. A verdade é que a data exata de sua fundação é desconhecida, já que as únicas fontes de informações partem das tradições hindus.

A cidade é um excelente ponto de compra de saris, a belíssima vestimenta típica das mulheres indianas. O tecido Banarasi e o leite Koha são considerados a marca registrada da cidade e suas indústrias são responsáveis pelo ganha pão de muitas famílias da região.

A cultura local está intimamente associada com o rio Ganges e sua importância religiosa. Sua parte antiga, próxima ao Ganges é repleta de labirínticas ruas estreitas que são ladeados por pequenas lojas e dezenas de templos hindus. A Cidade Velha é rica em cultura, e merecidamente um destino popular para viajantes e turistas. Varanasi tem cerca de 100 ghats, dos quais a maioria destinada a banhos, enquanto outros são usados como locais de cremação.

Os hindus acreditam que tomar banho no Ganges lava os pecados humanos e a possibilidade de morrer em Kashi (Varanasi, cidade sagrada na Índia) e ter as cinzas cremadas e atiradas no rio, também garantem libertação da alma de uma pessoa do ciclo de transmigração da alma ou reincarnação.
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